Quando comecei a dar aulas no curso de Direito, há mais de vinte e cinco anos, era imprescindível ter um mestrado. Então, no intuito de garantir meu emprego, procurei um programa de mestrado e, de um dia para o outro, eu estava perdida em meio a aulas, seminários, viagens e o pavor de uma escrita que eu não conseguia me organizar para terminar. Duas prorrogações de seis meses depois e eu decidi que precisava escrever, de um jeito ou de outro. Reuni minhas forças, minhas economias e, em pouco mais de um mês, terminei. No dia seguinte, senti um vazio imenso, sem saber exatamente, o que faria dali em diante. Quase uma ressaca de quem bebe para curar a da noite anterior, mas, ao mesmo tempo, um alívio inexplicável.
Só lamento não poder acreditar em mim mesma, porque prometi que nunca mais iria “inventar moda” e me meter nessas coisas. Mas o tempo passou e cá estou de novo, agora com o prazo para qualificar a Tese e quase louca novamente. Não só ingressei no Doutorado, como novamente procrastinei, embora, desta vez, não o tenha feito por motivos tolos. Tive minhas razões, entre excesso de trabalho, visitas de parentes e um pouco de sedução que o sofá e meus livros de ficção direcionaram a mim.
A verdade é que não tenho facilidade para escrever textos científicos. Não é a escrita em si, mas o que me cansa é ter que citar os pensamentos e ensinamentos de outros, quase a cada linha escrita. E, assim, todos os dias arrumo uma justificativa para não escrever o tanto que deveria, mas o tempo, cruel, pisou no acelerador e, dia por dia, subtraiu-me as horas disponíveis. Agora, olho o relógio, em quase desespero. Sinto os segundos nas batidas preocupadas do meu coração. Como disse um colega, esta é a fase da areia movediça: ou nos mexemos ou afundamos.
Não sei você, caro leitor, mas eu, quando tenho alguma tarefa mais complicada, na qual hesito em mergulhar, surge-me a vontade de fazer qualquer outra coisa, como arrumar armários, varrer a rua, assiste séries de dez temporada e mais um milhão de outras possibilidades. Sem dizer o sono, que, sob comando de um cérebro procrastinador, se anuncia nos momentos mais inoportunos.
Meu conselho, aquele que nunca sigo, porém, é, não deixe as coisas para última hora. É um estresse desnecessário, um desgaste físico e emocional. Sem dizer que quase nunca o resultado se equipara àquele que poderia vir, produzido paulatinamente. O procrastinador, eu bem sei, é aquele que faz o possível, movido pelo pânico, rogando ao Universo que o ajude na multiplicação das horas impossíveis, não utilizadas.
Acredito, porém, que dificilmente deixarei de ser essa pessoa, já incorporada a minha personalidade. Eu que lute e que, ao menos, evite, dentro dos meus recursos, a falência múltipla das horas. Preciso voltar a minha tese, ainda parcialmente escrita. Priorizei a escrita deste texto, no entanto. Antes, ainda, tomarei café e farei mais umas coisinhas, como dar uma volta com minhas cachorras. Afinal de contas, acima de tudo, o procrastinador é um otimista iludido.