Gosto de colocar para germinar as sementes das frutas que consumo, mesmo que a rigor não tenha onde plantar, em caráter definitivo, posteriormente. Tenho verdadeiro encantamento em observar como a vida se deixa adormecer dentro de sementes de tamanhos variados. Vejo-as como pequenas joias que podem se transformar em árvores, produzir flores e novos frutos, abrigar ninhos, ganhar o céu.
Já distribuí para vários amigos, abacateiros, mangueiras, pitangueiras, limoeiros, mamoeiros, entre outras espécies. Todos resultantes de frutos que comemos e cujas sementes foram escolhidas e reservadas. Depois de alguns dias secando, faço o processo de germinação. Algumas sementes são colocadas no algodão umedecido, enquanto outras vão para pequenos recipientes com terra, até que surjam raízes e as primeiras folhas. A seguir, planto em vasos e delas vou cuidando até que estejam em condições de serem replantados em vasos maiores ou, se tiverem sorte, na terra.
Depois que os distribuo, dados àqueles que acredito lhes tenham respeito, fico na torcida para que sejam bem cuidados, que cresçam e cumpram seu papel no mundo. Infelizmente não tenho, eu mesma, um espaço para cultivar meu próprio pomar, (re)construir a mata particular com que tenho sonhado em toda minha existência, mas sigo, ao meu modo, semeando alguns verdes sonhos.
Meus avós, os quatro, sempre estavam plantavam algo e quase tudo sobre o assunto aprendi com eles, mas meu já falecido tio-avô, Orlando, vivia plantando coroas de abacaxis, embora nunca, que eu saiba, colheu qualquer fruto nessa empreitada. Eu mesma já plantei vários, sem sucesso, à exceção de um mini abacaxi ornamental, não comestível.
Ano passado, depois de comer um abacaxi muito doce, resolvi tentar novamente. Retirei a coroa e a coloquei na água, depois de arrancar algumas das folhas inferiores, tal como vi em um vídeo no YouTube. Tão logo notei as raízes, coloquei em um vaso e lá o deixei, sem muita expectativa. Para minha surpresa e alegria, meses depois, já com as folhas bem crescidas, notei que um pequeno abacaxi vinha surgindo, saindo exatamente do meio da coroa.
Foram muitos meses de admiração, vendo o fruto se formar e crescer, juntamente ao lado de mais uma nova coroa, um outro pé de abacaxi. Em verdade, ele não cresceu muito e foram muitos meses nos quais passei enamorada dele, até, há poucos dias, ele se soltou do pé, lá deixando seu irmão sozinho. Apanhei-o com cuidado e o levei para a fruteira, na cozinha, onde, após dois dias, amadureceu.
Embora fosse possível sentir que era perfumado, não fazia ideia se meu abacaxi era doce e confesso que o cortei com todo cuidado, cautelosa para não desperdiçar nenhum pedaço sequer. Amarelinho e suculento, prová-lo foi uma experiência incrível, pois era doce e pouco ácido. Foi impossível não pensar no meu tio Orlando e, em silêncio, dediquei a ele a minha delicada iguaria.
Guardei a coroa do meu pequeno rei e irei replantá-la, na esperança de repetir o feito e, daqui há alguns meses, novamente ter a alegria de reverenciar a majestade desse fruto. Além do prazer de saborear algo que eu plantei em um simples vaso, sinto-me como quem venceu um desafio. Agora só me falta colher algum maracujá, mas isso já assunto para outra crônica...