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Todos os dias aumenta a consciência de minha ignorância. Diante de tantas coisas a aprender, de frente e de costas para tantos mistérios desse mundo, aumenta a certeza de que tudo o que sei nem de longe se aproxima de uma milésima parte do que há para saber. Nesse sentido e em tantos outros, lamento a pequena duração da existência humana. Por outro lado, diante do mal do qual a humanidade é capaz, sinto, paradoxalmente, que alguns vivem demais.

Sempre irei me recordar, enquanto for dona de meus pensamentos, de uma, entre tantas frases do meu pai, que diz que morrer ignorante é um de seus maiores temores. Quando eu era criança, entretanto, não compreendia isso, mas é porque as crianças quase sempre flertam com a eternidade e com o pensamento mágico de que o mundo é simples, pequeno e decifrável.

Infelizmente, constato que irei morrer ignorante, mesmo que viva muito, pois não é dado, em uma única existência, absorver tudo o que há para ser aprendido. Particularmente, sempre que descubro algo que não sabia, desde uma nova técnica, conceitos de nova corrente de pensamento, novos lugares no mundo ou uma cor que nunca vi, maravilho-me como se tivesse acabado de chegar a um lugar nunca dantes visitado. Sei e lamento, no entanto, que não terei tempo para tudo e o que mais me incomoda é desconhecer o propósito da existência humana.

Não tenho base científica ou religiosa sólida e dogmática que tenha me convencido da superioridade humana sobre o restante da criação. Muitas vezes só desconfio que seja o contrário. Diante do que temos feito a esse planeta e aos demais seres vivos, cheios de empáfia, crueldade, descaso e repletos de super autovalorização, parece-me pouco provável sermos o melhor da Criação.

Então, qual o nosso propósito?

Por que somos criaturas atormentadas, com cérebros pensantes e malucos? Incapazes de apenas existir ou de evoluirmos, todos juntos, em harmonia, superando as pequenezas, as idiossincrasias, os preconceitos, as intolerâncias? O que estamos fazendo aqui? Estaremos todos ao léu, gente e bicho, em um salve-se quem puder ou haverá de fato algum plano superior, incapaz de ser apreendido pela nossa rudimentar consciência? Qual nosso propósito?

O meu medo de morrer e deixar de existir em algum plano não está propriamente ligado ao medo da morte, mas ao pavor que tenho de que não exista propósito algum. Então de que terá valido o sofrimento de tantos? Qual a alea que separa os bem-aventurados dos desgraçados? Quem rola os dados da nossa sorte?

Antes que alguém possa pensar que sou uma descrente total, afirmo que acredito em uma força criadora, em um Deus, mas ainda não me sinto esclarecida sobre o propósito da existência humana e minhas dúvidas aumentam sempre que constato do que a humanidade é capaz, para o bem e para o mal, em uma dualidade que me confunde e que me faz seguir em busca de conhecimento.

Haverá, por outro lado, algum propósito em me sentir atormentada pela existência de propósitos? Não faço a menor ideia, infelizmente. Na minha insignificância terrena, espero que haja e que isso, no apagar da pequena chama da minha vida, possa ser esclarecido. Em meus devaneios gosto de pensar que terei o alívio da revelação, entendendo, por fim, qual a razão do sofrimento de todas as formas de vida. Nesse dia, eu saberia estar no Céu.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e anda vivendo em busca de propósitos – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.