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Não tenho mais estômago para assistir aos noticiários e nem mesmo para acompanhar as mídias sociais. Sinto-me tão mal, tão desalentada que tenho a sensação de que o mundo acabou e esqueceram de nos avisar. Fico com a impressão de que dia a dia os seres humanos destroem de forma irremediável a vida animal e o meio ambiente, mas que a maior parte das pessoas não ligam para isso ou fingem que não é um fato.

O misterioso, lamentável e provavelmente criminoso vazamento de óleo no litoral brasileiro, sobretudo no Nordeste, maculando praias, ceifando corais, peixes, répteis e mamíferos que já são obrigados a conviver com a sujeira infecta da dita civilização me causa asco, indignação e profunda tristeza.

Ver o desespero daqueles que ainda acreditam que a natureza não está a serviço da mais vil espécie da criação divina, lutando para remover a mancha negra e mortal das praias e dos animais contaminados é o que me restaura a esperança em parcela da humanidade. É, no entanto, uma batalha inglória. São como pequenas formigas enfrentando pisadas gigantes. Enquanto isso aqueles que podem de fato fazer algo ficam perdidos entre papéis, pronunciamentos e datas futuras.

Ao meu sentir uma das coisas que mais causa preocupação é não se saber qual a origem desse óleo, ter alguma informação que permita ações mais eficazes, preventivas até. Quem quer que tenha causado isso, que seja amaldiçoado para todo o sempre e um pouco depois. É uma tragédia que não se pode mensurar a extensão, mas que já deixa seus rastros nefastos. Pobre legado às futuras gerações, com parcelas já descontadas na conta das atuais, ainda que muitos mal se deem conta disso.

A humanidade se comporta como uma praga que consome seu hospedeiro, alheio ao fato de que o fim também lhe pertencerá. O mundo agoniza em meio ao descaso, à crueldade, à ganância, a ignorância e a vilania humanas. Tantas vidas inocentes relegadas à insignificância, subvertendo o sentido de prioridade, de significado. Não capaz de descrever o quanto acontecimentos como esses me causam pesar e descrença.

O dia de Finados se aproxima e aqui no Brasil esse é um dia dedicado à memória dos falecidos. Para fazermos jus a esse dia teríamos que incluir um sem número de outras vidas perdidas, todas igualmente dignas. Há muito o que lamentar, mas muito mais a fazer. Não sei se um dia o meio ambiente irá se recuperar. Não sei se a vida vai ser vitoriosa, se a natureza vai conseguir superar mais esse ataque, mas eu me sinto impotente e de luto.

Palavras pouco ou nada podem diante de tudo isso, mas por ora é somente o que tenho. Diante do papel em branco em deito meus lamentos, desejosa de que meus sentimentos encontrem eco em outros corações e que aqueles que se dispõem a mudar as coisas através de seu trabalho sejam abençoados e tenham seus exemplos multiplicados. Formigas também constroem castelos e destroem montanhas, tudo só dependendo de qual direção escolhemos.

Cinthya Nunes é advogada, jornalista , professora universitária e tem ódio de óleo no mar e nas praias.