Tempos de pandemia, quase tudo diferente, mas apesar dos pesares o fim de ano chegou. As crianças ainda esperam o Papai Noel e os adultos vivem a tola esperança de que no derradeiro dia do ano, a mágica da mudança de um dígito na contagem ocidental do tempo possa transformar alguma coisa.
Convenções sociais à parte, há toda uma série de providências que usualmente tomamos nos finais de ano. Temos questões de todas as esferas para resolver. Uma das menos importantes, mas mais usuais é a compra de presentes para aqueles que amamos ou de mimos de agradecimento que direcionamos com gentileza para as pessoas que nos auxiliaram no decorrer de mais um ano.
Na minha família, há algum tempo, definimos que apenas as crianças são presenteadas. Para além de implicar em uma economia importante, ainda evita o stress de escolher presentes para todos, eis que presentear pode não ser tão simples como parece. Nesse ano, depois de fazer as contas e definir meus limites orçamentários, comprei todos os presentes pela internet, pois me incluo entre aqueles que ainda não se sentem confortáveis de ficar circulando pelo comércio.
Falando sobre final de ano, muitos profissionais também lidam com alterações significativas em suas rotinas nessa época. Para os operadores do Direito, entre os quais me incluo, é tudo uma loucura. Os clientes, de forma compreensível, querem a resolução de seus problemas, pois sabem que um mês de recesso forense se aproxima. Os magistrados, que tem metas impostas pelo Conselho Nacional de Justiça, também tentam colocar a casa em dia e muitas decisões esperadas durante o ano todo acabam realmente acontecendo em dezembro.
De uma forma geral, segundo observo, todo mundo quer resolver todas as questões que ficaram em aberto durante o ano, como se fizesse parte de um ritual, um obstáculo que precisa ser ultrapassado para que o próximo ano se aproxime. Particularmente também me sinto assim e de repente me vejo dentro de um mês que carrega consigo muitas prioridades e certa tensão imposta por mim mesma.
Em tempos pré-pandêmicos estaríamos na época das confraternizações, amigos secretos e outra imensa gama de comemorações. Por certo que várias pessoas ainda estão fazendo isso, algumas de modo irresponsável, outras de maneira mais segura, até mesmo virtual, mas também acredito que a maior parte esteja buscando formas de dar novos significados e conformações a tudo isso.
Faço parte de um grupo de WhatsApp, por exemplo, formado durante a pandemia, que se dedica ao estudo da aquarela. Em poucos meses criamos uma amizade que se solidificou por conta de dois encontros semanais para, virtualmente, pintarmos juntos. Criamos um amigo secreto e cada um enviará ao seu sorteado um cartão de Natal especialmente pintado em aquarela. Acho que não mandava cartões físicos via correio havia muitos anos.
Nesse fim de ano, inevitável pensar também em como serão as noites de Natal e de Ano Novo em uma época de tantas despedidas e ainda de medo diante do vírus. O bom senso exige evitarmos aglomerações e colocarmos em risco nossos entes queridos. Por outro lado há riscos menores que precisamos correr, eis que não sabemos o quanto temos de nós para os outros e dos outros para nós.
Em muitas mesas não haverá fartura, enquanto em outras, infelizmente, lugares vazios marcarão as ausências eternas. Em todas, no entanto, que não falte fé e esperança de dias melhores. Que o Criador, assim como a criação, também se convença de que é preciso finalizar as pendências para que um novo ano possa se achegar e nos aconchegar.