Embora eu me considere uma pessoa ativa, que gosta de fazer muitas coisas diferentes, também aprecio dormir. Para além do fato de que uma boa noite de sono é capaz de recuperar nossas forças, de descansar nossos corpos, dormir me traz um bônus: os sonhos! Eu sonho todas as noites. Na verdade, se tiver a chance de tirar um cochilo no meio da tarde, em um final de semana, é quase certo que algum sonho venha me visitar também.
Considero os sonhos fundamentais. Através deles podemos viajar para lugares nos quais nunca estivemos e mesmo em lugares que só existem em nossas mentes. Da mesma forma, reencontramos entes queridos que já não estão nesse plano ou, conforme a crença de cada um, apenas existem em nossas lembranças e sentimentos. Sonhos nos dão asas e até nos permitem respirar sob as águas. Sonhar é desafiar o tempo, a realidade e o racional. Apesar das explicações científicas, sonhos são divinos e ponto final.
A grande questão é que para sonhar, ao menos para esse tipo de sonho, é preciso dormir. E aí é que reside o meu problema dos últimos dias. Há algum tempo tive episódios de insônia, mas que se foram do mesmo jeito que chegaram, sem maiores problemas ou justificativas plausíveis. Na verdade, nem era insônia propriamente dita, mas mais um descompasso entre o meu sono e a hora em que eu podia dormir. De toda forma, não é o que me ocorre nos presentes dias.
Quem tem gatos por certo irá compreender o que escrevo. Os felinos tem o estranho hábito de acordar cedo. Por mais que eu tenha me descoberto uma admiradora e apaixonada pelos gatos, nesse ponto temos uma discordância irreconciliável. Eu não gosto de madrugar quando o quesito é acordar. Já quando o complemento é dormir, estou na minha praia. Sempre preferi as madrugadas para ler, escrever, ver televisão e até para fazer artesanato. Só não gosto de levantar no alvorecer do dia, ainda que sinta profundamente pelo espetáculo perdido.
Por questões de trabalho, há dias da semana nos quais preciso me levantar bem cedo e, nessas ocasiões, conto os minutos de sono a conta-gotas. Precisos, não gosto de perder nenhum. Contudo, os meus gatos ou não estão cientes dessa regra ou simplesmente não se importam com ela, eis que invariavelmente pulam sobre os cobertores exigindo carinho, arranham a porta do quarto para entrar quando são expulsos ou, mais radicais, resolvem dar uma mordiscada (de leve) nos dedos de pés desavisados.
Nessas horas, depois de broncas, resmungos sonolentos, somos vencidos pelos raios de sol que se infiltram pela janela e pelo relógio que grita avisando que meia hora de sono foi perdida, levando com ela a possibilidades dos deliciosos sonhos que me embalam um pouco antes de me levantar. Trôpega de sono, desço as escadas de casa para preparar o café da manhã, torcendo para ter algum minuto do dia no qual eu possa me encostar.
Resignada, saio para trabalhar, não sem antes contemplar, num misto de inveja e raiva, a “gataiada” que, relaxada e alimentada, repousa tranquila no sofá, no qual provavelmente dormirão durante toda a manhã. Não tenho dúvidas de que são especialistas na arte de dormir e, antes de fechar a porta de saída, pergunto-me se também apreciam os sonhos que por certo lhes visitam enquanto estou impossibilitada de recebê-los...