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Ainda ontem eu passeava pela internet quando vi uma notícia sobre um senhor de 96 que havia escrito uma música para a esposa com quem havia sido casado por 75 anos e falecera havia um mês.

Assisti ao vídeo e, uns 10 minutos depois eu estava me acabando de tanto chorar e com meu coração pesaroso. Contava-se a história que, havendo naquela cidade um concurso de melhor música, esse senhor, que não sabia tocar ao cantar, ao invés de enviar um vídeo, mandou uma carta aos organizadores do evento, contando a sua história de amor e a homenagem que ele fazia, pela letra, àquela que fora sua companheira de tantas décadas.

Os organizadores, comovidos, embora não o pudessem classificar para o concurso, tendo-se em vista a ausência de uma gravação, resolveram fazer algo diferente e escolheram um cantor e músicos profissionais para gravarem, em estúdio, a letra da música tão singularmente composta.

Quando apresentaram-na ao senhor, ele não cabia em si de tanta emoção e, enquanto a música ia tocando, cantada por uma bela voz, apareciam, no vídeo que eu assistia, as fotos do casal, desde muito mocinhos, depois mais maduros, depois idosos, sempre juntos, sempre com aquele olhar que só os cúmplices de vida sabem reconhecer. Pareciam felizes, em um mundo que já não era mais acessível a ele.

Ela lhe dera 75 de sua vida e ele era grato por isso. Com lágrimas nos olhos, o velhinho, que fora um homem muito bonito, dizia, com o olhar perdido, que agora, vendo do hoje, tudo parecia um sonho, um sonho no qual ela existiu, tão linda, tão menina, tão tímida e tão amada por ele.     Ainda com o mesmo olhar, ele finalizava dizendo que, embora tudo parecesse um sonho distante, no agora, tudo foi real, aquela vida realmente existiu.

Entre a nuvem que se instalou em meus olhos e as lágrimas que me molhavam a face, eu pensei no quanto essa vida é fugaz, o quanto parece um sonho que acaba sem avisos, à revelia de quem o habita, um sonho que não pode ser verdadeiramente imortalizado, mesmo que se transforme em filme, em livros ou em uma música. Só quem ama verdadeiramente, quem sonhou, quem se permitiu as mais profundas emoções é que pode revivê-las em pensamentos, ninguém mais.

De repente, nas lágrimas daquele homem, eu vi uma dor que é universal. A dor de quem fica em um mundo onde não mais estão as pessoas amadas. Meu coração bateu tão fraco e tão forte quanto o dele e eu temi não conseguir parar de chorar. O fato de que ainda habito o mundo do sonho não foi capaz de me consolar, porque sei que, humanos e finitos, podemos acordar a qualquer momento, mesmo que se queira dormir para sempre...