A cada dia que passa o que mais se ouve é que as pessoas estão desanimadas, infelizes com o que fazem, com a vida que levam, com no que se tornaram e por aí ao infinito. De fato, viver não é algo simples. Ser feliz também não, mas deveria.
Vez ou outra eu me dou ao direito de filosofar em voz alta. No caso presente, por escrito. Nesses momentos, analiso a questão da felicidade. Não creio que seja possível ser feliz o tempo todo. Não daquele tipo de felicidade que fica estampada na cara. Mas é possível viver feliz, de modo geral, de uma felicidade que se cultiva na alma. Assim, mesmo nos momentos mais difíceis, quando o corpo sente, o rosto chora, a alma está lá, dando guarida e prometendo dias melhores.
Todos, sem exceção, temos ou teremos momentos difíceis para enfrentar. Algumas batalhas, inclusive, são perdidas e é necessário sabedoria para aceitar, para recomeçar. Sabedoria, entretanto, não se compra na esquina, não se consegue sem marcar o próprio couro a ferro e fogo. Talvez alguns nasçam iluminados, sábios desde o ventre, mas a grande maioria das pessoas precisa de tempo para compreender a vida e muitos passam por ela sem sequer ter o entendimento de que há algo a se compreender, a aprender.
Sem querer entrar na seara religiosa, a mim parece claro que, se a vida humana não tiver, entre seus propósitos, o da evolução, então pouca coisa faz sentido. Desse modo, a felicidade pode ser uma busca, mas também precisa ser um caminho. É necessário encontrar algum porto no qual ancorar, algum lugar seguro, dentro de nossas vidas, para sermos felizes, para que a vida não seja só uma prova, mas possa ser uma viagem.
O que percebo é que muita gente passa pela vida crendo que a felicidade consiste, acima de qualquer coisa, na conjugação do verbo ter. Claro que possuir coisas das quais se precisa ou se gosta é prazeroso. Aliás, todos deveriam poder viver de forma digna, mas quando o desejo de ter coisas se torna maior do que tudo, inversamente, as pessoas se apequenam...
Fico pensando em que tipo de pessoas o mundo anda produzindo. Todo o tempo escuto reclamações de pessoas que não estão felizes com seu corpo, com seu trabalho, com seu salário, com seu companheiro, com o universo e daí por diante. Paradoxalmente, não são as pessoas mais humildes que conheço. Quase sempre é gente estudada, capaz, bonita, mas cujas vidas foram ficando sem propósitos, sem norte.
Quisera que felicidade fosse um elixir, disponível nas melhores drogarias, mas daí, também, qual seria a graça de tudo? Não podemos ter tudo, mas podemos, sim, ser muita coisa, sobretudo aquelas que alteram a beleza de nossas almas...
Sejamos felizes, ainda quando nosso coração estiver aos prantos e as montanhas parecerem intransponíveis. Dentro de nós, ao menos, podemos sublimar...