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calor

Depois de várias semanas frias, com mínimas baixas, dormindo sob cobertores, o tempo em São Paulo virou e o calor chegou pesado. Nosso quarto, frente de sol, passa a tarde toda armazenando calor para permitir que fritemos por igual, nos dois lados. Para ser possível sobrevivermos, especialmente para garantirmos algumas noites de descanso, instalamos um aparelho de ar-condicionado. E tudo corria bem, até que, em um dia especialmente quente, o dito cujo resolveu pifar, para nosso profundo desespero.

O jeito era dormir na sala, que já um lugar mais fresco e onde também há outro ar-condicionado. O problema é que na sala não temos uma cama, mas um sofá que, na ausência de coisa melhor, serve para dormir. De fato, é espaçoso, mas é um sofá e, depois de certa idade, há certa resistência do corpo em se adaptar a noites maldormidas e a colunas mal acomodadas.

A vantagem é que, ao menos, a temperatura estava boa, mas não agradou a vizinha, que reclamou do barulho da máquina. Assim, em prol das boas relações, optamos pelo modo ventilador que, infelizmente, não refrescava da mesma forma, embora fosse melhor do que nada. Privilegiamos a qualidade do sono da vizinha, em detrimento do nosso.

Dormir no sofá, com mais duas cachorras que se convidaram a subir e com pelo menos três dos nossos gatos passando por cima de nossas cabeças ou barrigas, acrescentou emoções. Enquanto isso, as consultas ao percurso percorrido pelo entregador do novo ar-condicionado eram desoladoras. Ainda seriam vários dias nesta peleja. Nunca senti tanto saudades da minha cama, do meu quarto.

Dois dias depois, o tempo virou a nosso favor. Pleno dezembro e esfriou novamente. Escrevo sentada no sofá, sem saber se será o suficiente para retornarmos ao nosso ninho, onde nossas colunas podem ser plenas. Tento me cansar ao máximo antes de encarar o quarto sem refrigeração, para ver se o sono vence qualquer mal-estar.

Preciso mandar meu texto semanal, este que você lê agora, se me acompanhou até aqui e não quero esperar até amanhã cedo para fazê-lo. No frio, é muito vantajoso, muito cômodo, ter um quarto repleto de armários de madeira e que recebe todo o sol do mundo durante o dia todo. É como dormir em uma incubadora, presumo, já que nunca dormi em uma. Nos dias quentes, porém, é uma sauna, abafada e sufocante. Como deixar a janela aberta não é uma opção segura na cidade de São Paulo, deixo em aberto o desfecho desse perrengue. Uma luta de titãs, entre a dor nas costas e o calor, ainda não sei, neste momento, quem será o vencedor. Não descartamos, ainda, descontentar a vizinha, se as cenas foram fortes demais.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e não tem mais idade para dormir no sofá –

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